Agora, em paralelo, pense em alguém que se sente ameaçado pelo mundo. Aquele que se sensibiliza diante da violência crescente, das injustiças, da agressividade. Uma pessoa que, em meio a tudo que vê ou experimenta sente algo que se assemelha a uma inadequação, um não lugar. Alguém que não se sente pertencente.
Quando esse sujeito conhece a possibilidade de refazer toda a sua rotina – pessoal, de trabalho ou de cuidados com os filhos – dentro de um ambiente que lhe traz determinada garantia de proteção, pode ser que ele deliberadamente se recuse a retornar ao meio externo, inóspito e cruel em seu ponto de vista. Cria-se a possibilidade de que ele prefira a estabilidade do que lhe é mais conhecido às incertezas que a vida além muros pode lhe ofertar.
O retorno a esse espaço, percebido como algo tão ameaçador, traz consigo inclusive algumas respostas fisiológicas de medo, como taquicardia, sudorese, dilatação das pupilas. O corpo clama por auxilio ao se sentir intimidado. Forçar uma situação de reintrodução à rotina anterior sem algum tipo de ajustamento gradual pode ter efeitos extremamente nocivos à própria saúde mental.
Nesse sentido, a reaproximação com o mundo circundante deve acontecer num tempo próprio de cada um, sem possíveis acelerações. Outro fator importante é fortalecer uma rede de apoio, onde a ansiedade possa ser minimizada através da empatia e do amparo. Além disso, uma ajuda profissional pode ser considerada muito benéfica no processo de readaptação e mais uma ferramenta de ajuda para desenvolver o fortalecimento do bem estar subjetivo.
Sobre a autora
Bruna Richer é graduada em Psicologia no Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR) e pós graduanda no curso de "Psicologia Positiva" da PUCRS (com previsão de conclusão em março de 2021) e em "Psicologia Clínica" pela PUCRJ (com previsão de conclusão em novembro de 2021). Escreveu livros infantis que versam sobre sentimentos que, por vezes, são difíceis de serem expressos pelas crianças - no ruído de facilitar o diálogo entre pais e filhos sobre aquilo que não conseguimos dizer. Livros: "De carona no corona", " A noite de Nina - sobre a solidão", "A música de dentro - sobre a tristeza" e " A dúvida de Luca - sobre o medo".
Bruna é uma das fundadoras do projeto social Grupo Grão, que surgiu com a mobilização voluntária em torno de pessoas socialmente vulneráveis, através de eventos lúdicos, buscando a livre expressão de sentimentos por meio da arte. Também é formado em Artes Cênicas pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio (SATED), o que a ajuda a desenvolver esse trabalho de forma mais eficiente.